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Solidão, tempestades, ventanias, e outras coisas…

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Rain “Minha força está na solidão. Não tenho medo de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite”. Clarice Lispector escreveu isso. Lendo essas palavras, o mais impressionante, porém, não é a ideia de que minha força possa estar na solidão, e sim que eu tenha me acostumado a procurar minha força em toda parte, exceto na solidão.

Saia de casa. Vá à festa. Ao bar. Ver gente, dizem. Não sendo possível, existem entorpecentes ao alcance da mão: a televisão solidária, o correio eletrônico em que smiley faces de óculos escuros pesam o mesmo que um parágrafo inteiro, 140 caracteres para contar como chove ou como vai a dor de cabeça. Um novo toque no celular, com uma nova mensagem de texto. amizades “light” nos sites de relacionamento.

E a solidão, aquele monstro, fica ali no canto, de olhos meio vidrados, se esquecendo de rosnar, a baba imobilizada no canto da boca.

Mas, e se minha força estiver na solidão e eu estiver, por pura tolice, confundindo heróis e vilões?

Afinal, eu também sou o escuro da noite. Eu também sou o que sobra em casa depois que todo mundo saiu e o que sobra na cidade depois que todo mundo foi dormir.

Eu também sou isso, o silêncio que existe de dentro pra fora, como algo que se alastra, que transforma até o ruído externo numa coisa sem sentido. Eu também sou eu, apenas eu só. E mais nada nem ninguém, mesmo na esquina mais movimentada da maior cidade do mundo. Mesmo no meu lugar preferido do mundo!!!

Também sou o último passageiro do ônibus, e a voz que ninguém ouviu.

É preciso grande humildade pra coabitar comigo, porque não ter medo d chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, é não camuflá-las com auto-ajuda.

Mas, só tenho como ser o claro do dia sendo, também, o escuro da noite. Do contrário, a minha vida é rasa e os meus sentimentos, pequenas pérolas falsas. Dito de outro modo: só tenho como acompanhar e me fazer acompanhar se descriminalizar em mim a solidão.

Apenas mais um dia cinza…

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dia-cinza1 Tenho tido dias daqueles…dias cinzas. Hoje, foi mais um deles.

O céu, nublado. Cinza! O tempo, fechado. Tempestade! O chão,molhado. Água da chuva! Penso que tudo isso talvez seja só um reflexo da minha alma. Ela anda assim, dessa cor, cinza. Cor sem graça. Mas, extremamente significativa.

Não tem chovido só lá fora…chove aqui dentro também. E, ao mesmo, aqui dentro também é terra seca. Cada vez mais encharcada. De água das lágrimas ou de sangue? Eu não sei…

A cor que colore minha alma também vem das cinzas caídas sobre mim. Tanta coisa foi queimada, tornada inútil, jogada fora…coisas que eu achava serem tão importantes, essenciais, até, e que depois, descobri, apenas ocupavam lugar em vão. O que será melhor: o vazio ou o inútil? Ainda estou descobrindo…o vazio é dolorido, mas carregar coisas das quais não preciso é exaustivo demais!

Eu já não sinto mais muita graça em nada. Eu olho, e só enxergo cinza e os seus tons…será que minha alma ficou daltônica, depois de tanta ferida, mágoa, desilusão e decepção, inclusive comigo mesma…?

E, pergunto, será que é possível encontrar alguém, qualquer alguém que seja, que possa me ajudar a recuperar o que perdi? Mas, se eu nem sei direito o que perdi, ou muito menos em que parte do caminho ficou…

Eu queria um abrigo. Eu preciso de um colo, e de um ombro. Sincero, verdadeiro. E que me entenda. Não quero ser julgada nem apontada. Muito menos, mal interpretada, injustiçada.

Mas, eu me sinto tão…cansada! Exausta, na verdade. Com vontade de entregar os pontos e não tentar mais nada. Desistir de tudo. Desistir das pessoas, de acreditar nelas. Desistir de ter esperança. Desistir de mim, e simplesmente sumir, fugirrrrrrr. Só que então, eu lembro que pra qualquer lugar que eu vá, eu mesma vou estar lá, então, qual o sentido disso tudo, afinal?  Talvez a cor cinza esteja em meus olhos, e se assim for, a menos que eu mude, nada ao meu redor vai mudar. Só não queria mudar pra pior…ter que ser mais dura, mais seca, mais fria, mais racional, mais grossa…ser assim nao seria ser quem eu sou, e tentar ser quem eu não sou não iria me deixar ainda mais cansada??

Queria tanto dias mais coloridos, e até mesmo, menos chuvosos…não só lá fora, mas dentro de mim. Queria passarinhos verdes. Céus azuis. Tardes alaranjadas. Arco-íris no horizonte. Será que isso existe, afinal? Começo a me perguntar se não é tudo mentira, ilusão…como nesse filme. Começo a duvidar daquilo que antes era a razão do meu existir. Começo a questionar, sem encontrar resposta lógica ou plausível, tampouco palpável.

Assim, eu quero parar. Só isso…

E apenas chorar.

Quem tem um colo, um ombro e uma mão pra fazer cafuné, pra me emprestar???

Banho.de.chuva

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Uma das coisas de que mais gostava quando era criança era tomar banho de chuva. Eu amava ficar toda encharcada, me divertia comigo mesma e com a água.Se tivesse alguém junto, ótimo.Se não, tudo bem também.Minha companhia eram mesmo os pingos d’água, quando maiores, melhor!Banho de chuva na rua, no jardim, no quintal, na piscina…aproveitava a água que escorria pela calha, pegava shampoo e sabonete e fazia daquilo meu chuveiro.Por ter morado a maior parte da minha vida, até então, na região equatorial, onde chove um dia sim, outro também, era programa certo pelo menos uma vez na semana.Lembro quantas vezes caía aquele temporal, bem na hora em que eu voltava da escola. Descia do ônibus e ia caminhando bem devagar pra casa, só pra ter o prazer de sentir a água da chuva vir escorrendo.Quantas vezes já chorei na chuva, no melhor estilo “I’ll do my crying in the rain”. Choro de raiva, de dor, de coração partido, de felicidade…Já beijei e fui beijada também, com as gotas d’água testemunhando juras de amor eternas. Já tomei banho de chuva só pra fazer passar o calor.Banho de chuva escondido da mãe (“Vai ficar gripada, menina!!“).Banho de chuva andando de bicicleta. Banho de chuva brincando de queimada.Banho de chuva. Banho. Chuva.

Com o passar do tempo, fui crescendo e consequentemente tendo menos tempo pra gastar tomando banho na chuva.Mas, mesmo não sendo mais criança, continuo amando fazer isso! Daí, hoje, estava eu em casa, sozinha, lá pelas 19h, estudando tentando estudar, quando começo a escutar os trovões. Não tive a menor dúvida…larguei os livros e fui correndo pro jardim. Ah, que delícia que foi!!! Sabe, nessa fase que tenho vivido, com tantas coisas novas, estranhas, boas e diferentes acontecendo comigo (umas publicáveis, outras nem tanto assim), como eu estava precisando dessa chuva e desse banho. Banho no corpo. Chuva na alma. Alma lavada!!!! Foi terapêutico. Revigorante.

Bem sei que isto irá me render começar a tomar comprimidos de Vitamina C amanhã, pois já não tenho mais os anticorpos fortinhos da infância/pré-adolescência/adolescência.Mas, isto é o que menos importa, a uma altura dessas…….. =)